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Manuella Soares

Quem disse que depois de “certa idade” não podemos nos tornar atletas? Ou que não temos mais tempo para praticar profissionalmente o esporte de nossos sonhos? Ou, ainda, que só em esportes de alto rendimento podemos ser campeãs ou campeões internacionais? Nessa entrevista especial para a Revista do TTC, Ana Salinas nos mostra que em qualquer idade, podemos tudo. Basta encontrar a modalidade que nos encanta, o esporte que nos apaixona e, claro, o Clube certo com uma equipe técnica de alta excelência. E foi tudo isso que Ana Salinas encontrou no Tijuca Tênis Clube.

Antes de conhecer o Nado Artístico, a desenhista industrial, decoradora de bolos e campeã pelo TTC Master Ana Salinas conta que passou por quase todas as modalidades de esportes, ainda na adolescência. “Vôlei, tênis, ginástica rítmica, ginástica olímpica Sabe quando a gente é criança e vai tentando descobrir onde é que a gente fica?” A atleta diz que tentou de “tudo um pouco”, então, descobriu que sua praia era, na verdade... a piscina. “Tentei de um tudo e nada me segurava. Porque eu entendi que sou da água, não sou da Terra”, brinca.
Desde criança, Ana Salinas frequenta o Tijuca Tênis, seu clube do coração, do qual só ficou longe quando se casou e foi morar na Barra da Tijuca, em 2004. Por conta da distância, foi difícil para ela manter alguma atividade periódica durante os 15 anos em que esteve do outro lado da Floresta da Tijuca. Mas quando retornou ao bairro, em 2019, a primeira coisa que Ana Salinas fez foi voltar para o TTC.
Sua filha, Nina, então com 12 anos, e hoje atleta da equipe Júnior de Nado Artístico do TTC, estava vivendo as inseguranças comuns de uma adolescente: medo de como seria o novo ambiente escolar, de estar longe dos amigos, de ser aceita pelos novos colegas. Foi daí que Ana Salinas lembrou de como o Clube é o ambiente ideal para fazer novas amizades e socializar em qualquer fase da vida. Falei “Vamos para o Clube fazer alguma coisa. Lá você socializa, conhece gente… E assim eu fiz”, conta. E nesse movimento de ajudar a filha a lidar com as novidades da mudança, a atleta acabou construindo seu próprio grupo de amigas, mães de outras meninas atletas do Tijuca.
Influenciada pela paixão da mãe pelo nado, Nina fez e adorou a aula experimental. “Era bem no verão, final de fevereiro, início de março, calor, piscina, ela amou tudo!”. Ana logo fez amizade com a professora de Nina, Ana Carolina Siqueira. “Contei minha história para Carol, dizendo que eu queria muito voltar a nadar, mas que estava muito obesa e não tinha condições. Então, ela disse que ia ficar me perturbando (risos) para voltar a praticar o esporte, porque aqui tinha um lugar pra mim, era só eu querer”.
E foi numa dessas “perturbações” que Ana virou a chave e disse para a treinadora: “Carol, quando eu perder meus dez primeiros quilos, eu volto para nadar com a minha filha. E, assim, fiz. Meti na minha cabeça que ia perder peso para voltar para o nado junto com a minha filha, eu queria fazer isso junto com ela”. Ana Salinas conta que, nos anos após a gravidez adquiriu sobrepeso. “Quando voltei para a Tijuca, estava com 95 kg, sendo que eu tenho 1,49 de altura, então eu estava muito gordinha, muito mesmo (risos)”.
Os dez primeiros quilos, Ana Salinas perdeu apenas com a mudança de hábitos alimentares. “Estava tão insegura que não queria nem colocar um maiô”. De volta à piscina, a futura campeã acabou levando todo o grupo de mães das atletas para a prática do esporte. “A Jaqueline, nossa diretora de nado, disse: se você for, eu vou também! Começamos a botar pilha nas outras mães e acabamos criando um grupo de nado Master, formado pelas mães das atletas”.
A partir daí, ninguém mais segurou a nadadora. Junto de Jaqueline Clemente, ex-atleta de ginástica rítmica do Tijuca, começou a treinar coreografias com um grupo de mais sete nadadoras. Em outubro de 2019, a treinadora Ana Carolina inscreveu a dupla Ana e Jaqueline no Open da Argentina, uma participação inédita para o Clube na categoria Master. E, para orgulho de toda comunidade do TTC, elas foram campeãs! “Trouxemos na mala a medalha de ouro! Foi muito legal”, conta com um largo sorriso de quem realizou o sonho de todo atleta. Nesse mesmo ano, a equipe Master de Nado Artístico do TTC participou do Primeiro Festival Master do Brasil, organizado pela Associação Brasileira Master de Natação (ABMN). “Foi uma apresentação para mostrar que a gente pode investir no Master, para as mães e pais que estavam na arquibancada. Mostrar que a gente pode fazer o que a gente quiser! Estou com 49, vou cruzar essa fronteira dos 50 em outubro, mas, na minha cabeça, eu tenho 15! A minha filha já está mais velha que eu (risadas)”.

Melhor nado master do Brasil

Ana Salinas faz questão de ressaltar que o Tijuca Tênis Clube tem, atualmente, o melhor esquema de treinamento de master de nado artístico do Brasil.O clube disponibiliza para a equipe Master a mesma estrutura que oferece para as equipes principais, de alto rendimento. As meninas do Master contam com o trabalho de excelência da equipe técnica, do preparador físico do Clube, Rodrigo Leandro, que é o preparador físico da seleção brasileira, além do trabalho de Natália Esteves, coordenadora das equipes principais e, também, técnica da seleção brasileira. Aqui, a gente tem o melhor e o mais legal disso tudo é que a gente tem essa estrutura incrível e, ao mesmo tempo, a nossa técnica, a Carol sempre fala né “é para vocês se divertirem, heim! (mais risadas)”.

Nem a pandemia parou a equipe

Em março de 2020, a pandemia da Covid-19 obrigou a todos a interromperem as atividades profissionais, de estudo e lazer. E não foi diferente no TTC. Mas, Ana Salinas e as companheiras mantiveram o preparo físico e até mesmo os treinos e coreografia. O Clube, através do preparador físico e das técnicas, continuou dando todo suporte diariamente, online, para atletas da equipe principal. E as nadadoras do Master acompanharam, sem perder um dia de treino. Mesmo fora d’água, a distância, em suas casas, as atletas enfrentaram os meses da quarentena com muita dedicação e amor ao esporte.
“A gente estava na água quando tudo fechou, não podia aglomerar, não podia nada, mas continuamos online. E o que que foi legal? O Master entrou na onda junto com a equipe principal. Fazíamos juntas o treinamento online durante todo o período de isolamento. Estávamos distantes fisicamente, mas não longe dos treinos”, relembra. Durante o período, a mãe e a filha Nina, integrante da equipe júnior de alto rendimento, treinaram juntas na sala de casa, com as outras colegas em salas de forma virtual ao vivo.
A pandemia mudou a rotina de trabalho de todo mundo, muitas mães tiveram que enfrentar as jornadas em home office e adaptações de horários o que, segundo, Ana, acabou afetando as maio das atletas do “Master, justamente porque que trabalham, muitas são mães com filhos que não podiam voltar para a escola. Mesmo com a volta gradual dos treinos na piscina, praticamente só eu e Jaqueline retornamos de forma regular. Aquela equipe de nove acabou se dispersando por essas questões de horário e rotina”.

Piscina virtual

Ainda no primeiro ano da pandemia, os atletas do nado artístico do Tijuca participaram de uma competição online através do aplicativo TikTok, com um recurso de filtro que simula a imersão em água. “Foi muito legal. A gente simulou os movimentos do nado artístico no seco, mas usando o filtro que simula a água, então, foi muito bacana”.

Campeãs cariocas e federadas

Em 2021, uma nova nadadora se juntou à equipe Master. Ex-atleta de nado sincronizado de Pernambuco, Emanuela Bezerra, que se mudou para Rio durante a pandemia. “Emanuela foi atleta da modalidade durante 12 anos e entrou pra dar um up no time”. Ana e Emanuela acabaram formando um novo dueto quando Jaqueline precisou se afastar dos treinos por conta de um problema no joelho. Ana e Emanuela fecharam 2021 como campeãs cariocas e participaram do festival da ABMN, conquistando a sétima colocação, o que as posiciona entre os dez melhores duetos do Brasil. Depois das vitórias, o Tijuca se tornou o primeiro clube a federar o Master na modalidade.
No ano passado, a competição internacional não aconteceu e o calendário de 2022 ainda não foi divulgado, mas as duas seguem com os treinos diários aguardando ansiosamente pelas próximas convocações.
Ana Salinas e sua atual parceira treinam três vezes por semana, uma hora de piscina e uma hora de preparo físico. Ana diz que as nadadoras do Master não sofrem a mesma pressão da equipe de alto rendimento, nem resultado, nem em quantidade de tempo de treino, apesar de terem à disposição a mesma estrutura da equipe de alto rendimento. “Temos a estrutura física, a estrutura de piscina e a diversão! E o resultado é consequência. Então é uma grande, uma enorme terapia!”.

Menos 37 quilos e pronta para as próximas vitórias

Você lembra dos primeiros dez quilos que Ana Salinas perdeu para fazer o esporte de seus sonhos? Um ano e meio depois de começar a treinar, a confeiteira perdeu mais 27 quilos e diz que o exercício físico fez diferença absurda em sua vida. “Foi muito importante na minha perda de peso, mas principalmente para o meu bem-estar geral. Nesse período das férias, fico desesperada”, brinca. “Eu venho no Clube, nado no horário de banho livre, porque realmente é uma coisa que faz falta na nossa vida. É uma enorme terapia ísica e mental, sabe? Encho o saco de todo mundo que chega perto de mim falando que quer perder peso. Eu falo: vem pro nado!”.
Revista TTC – Fevereir/Março 2022